Relação pai e filho após a separação
2 de dezembro de 2010 - 8:32 PM - Escrito por: admin
Como agir com os filhos quando o casamento acaba? Como ficam os encontros familiares? É possível manter uma relação saudável com as crianças, mesmo os pais vivendo separados? São questões que estão sempre na ponta da língua diante de psicólogos e psicoterapeutas. Eles alertam porém que toda separação de pais acarreta reação dos filhos. É ruim para eles que os pais se separem, mas é muito melhor a ausência física do pai do que enfrentar conflitos diários entre ele e a mãe.
Educação, relacionamentos após a separação, traumas, relação afetiva dos filhos com o pai e a mãe separados, como enfrentar a sexualidade são temas abordados na entrevista que a psicóloga paulista Olga Inês Tessari concedeu ao O POVO, por telefone. Ela é autora de vários trabalhos sobre esses temas que podem ser conferidos em seu site na Internet:http://ajudaemocional.tripod.com. A seguir, confira os trechos da entrevista:
O POVO – Como deve ser trabalhada a separação dos pais? É possível minimizar nos filhos o trauma da separação?
Olga Inês Tessari – Na verdade, a separação dos pais deve ser uma coisa tratada em particular, nunca na frente dos filhos. Por que o grande problema é quando os pais discutem na frente das crianças que ficam querendo tomar o partido de um ou de outro. Muitas vezes o pai ou a mãe usa a criança de chantagem contra o outro. Então o ideal seria que o casal resolvesse a separação longe da presença das crianças. E aí o fato seria comunicado a elas, mantendo um clima de cordialidade.
OP – No caso dos filhos presenciarem uma separação conflituosa dos pais, isso pode influir na vida futura deles?
OIT -Sim. Numa separação traumática, onde os pais usam as crianças, um contra o outro, pode haver distúrbios emocionais que influenciarão no desenvolvimento da criança. O primeiro sintoma de que ela não está bem emocionalmente se percebe na escola. Ela chora, há crianças que se tornam mais agressivas, brigam com os outros coleguinhas.
OP – E na escola, qual deve ser o tratamento dado às crianças que estão enfrentando a separação dos pais?
OIT – O ideal seria que a escola tivesse conhecimento de que os pais estão juntos, separados ou se estão se separando. Hoje em dia, as escolas tem por hábito saber. Elas entrevistam o pai e a mãe, para saber como é o relacionamento em casa. Mas, o ideal seria que a escola tivesse conhecimento e até observasse a criança e, diante de qualquer problema, encaminhasse esta criança para o psicólogo. O quanto antes você começar a resolver o problema da criança, melhor.
OP – Nesse caso, a ida ao psicólogo é muito importante?
OIT – Sim. Porque a criança, ainda não tem aquele arcabouço emocional que o adulto tem. Muitas vezes nem o adulto sabe digerir muito bem uma determinada situação, imagine uma criança que tem nos pais o seu suporte e, de repente, um dos dois vai embora. Ela não vai saber lidar com isso e sofre muito.
OP – Mas, não é melhor a criança conviver com os pais separados do que no meio de uma relação cheia de brigas e discórdias?
OIT – É muito melhor. O filho, mesmo que os pais disfarcem, percebe o clima quando não está bem. Eu já ouvi uma criança dizer: 'eu não sei porque meu pai e minha mãe não se separam. Os dois não se dão bem'. As crianças são capazes de encarar a separação com muito mais naturalidade do que os adultos.
OP – Como os pais devem agir com relação a educação das crianças, no caso de estarem separados?
OIT – Quanto à educação, os pais estando juntos ou separados, os dois têm de falar a mesma língua, u seja, concordarem entre si. Então, por exemplo, se o pai disse não, a mãe, por mais que discorde, na frente da criança ela deve falar: ''papai disse que não''. Eles não podem discordar entre si diante da criança, porque ela percebe e começa a jogar com os pais. Um exemplo: o filho vai pedir ao pai para jogar videogame e ele diz não.A criança então vai pedir à mãe porque sabe que ela vai dar o videogame pra ele e pronto. A criança é muito inteligente. Ela percebe muito bem quando pode manipular seus pais a seu favor. Então os pais devem ser muito coerentes. Mesmo separados, eles devem conversar. O pai, que normalmente é quem vê menos o filho, deve pedir para ver os cadernos, conversar com ele, saber se estar tudo bem. Pai e mãe têm de concordar um com o outro. Se eles discordam de alguma coisa que conversem em separado, longe dos filhos. Na frente deles os pais nunca podem tirar a autoridade de um e nem de outro.
OP – Ainda existem casos em que a mãe joga a culpa da separação nos filhos?
OIT – Olha, existe. Infelizmente ainda há mulheres que engravidam pra se casarem ou para manterem seus casamentos. Para elas, quando o casamento chega ao fim, acaba a necessidade de ter o filho. Porque esse filho era o elo que a ligava ao marido. Muitas vezes, ela passa a não tratar bem essa criança, passa a desprezá-la, a achar que ela é a culpada da separação.
OP – E qual deve ser a postura da mãe, mesmo que ela fique com raiva, não queira a separação?
OIT – Ela não pode é falar mal do pai. Porque uma coisa é o que o marido dela está fazendo com ela. Outra coisa é o pai dos seus filhos. O melhor é ficar neutra. Não ficar sondando. Por exemplo, tem mãe que manda as crianças saírem com o pai quando percebe que ele vai namorar, manda as crianças passarem o fim de semana com ele. Depois fica perguntando pra onde ele foi, o que falou, o que fez. Isso não deve ser feito nunca.
OP – E quando o pai fica com a guarda dos filhos. Como é a reação dele? Procura ajuda de especialista?
OIT – Não necessariamente. Só se ele perceber que não está conseguindo dar conta do recado, não está conseguindo ter o controle da situação. Se ele não está conseguindo lidar bem com as crianças, conviver bem com elas. Mas, normalmente, o pai que assume cuidar das crianças é uma pessoa bem equilibrada, centrada, que vai educar bem dos filhos.
OP – E o autoritarismo e machismo, ainda são características muito fortes dos pais?
OIT – Isso depende muito do lugar onde a gente está. Depende da cultura, dos costumes, do ambiente familiar. Mas, em geral, os homens hoje estão menos machistas do que eram antes. Até porque a mulher teve muitas conquistas. Hoje, ela trabalha fora, divide as funções domésticas com o marido.
OP – Pode-se fazer um perfil do pai atual?
OIT – O pai atual é mais participativo. Ele leva as crianças pra escola, faz o jantar. Participa mais no todo. Acompanha o desempenho escolar das crianças e sai pra passear com elas.
Serviço:
Olga Inês Tessari
Psicóloga – Psicoterapeuta – Pesquisadora
Supervisora e Consultora
Consultório em São Paulo – Telefone: (11) 6605-6790
http://ajudaemocional.tripod.com
Fonte: O texto que você acabou de ler é uma entrevista realizada com a Dra. Olga Inês Tessari *
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