A questão da auto-estima.

20 de dezembro de 2010 - 4:29 PM - Escrito por: admin

Uma das grandes preocupações do momento em Educação e Psicologia é com a auto-estima. Professores, psicólogos e pais debruçam-se sobre a questão com cuidado crescente. Esclarecer alguns pontos básicos parece-me, portanto, valioso e útil. Auto-estima (auto-imagem ou amor próprio) é a forma pela qual o indivíduo percebe seu próprio eu. É o sentimento de aceitação da sua maneira de ser. Se a pessoa se vê de forma positiva, valorizando suas características, podemos dizer que tem auto-estima elevada ou positiva. Se, ao contrário, ela não se aceita ou se desvaloriza, isto é, se há inconformidade consigo mesma, dizemos que tem baixa auto-estima ou auto-estima negativa. O cuidado especial com o tema deve-se ao fato de que indivíduos com baixa auto-estima têm possibilidades maiores de apresentar problemas como depressão e insucesso profissional, entre outros. O risco de fazerem uso de drogas e tornarem-se dependentes químicos é também mais elevado. São também passíveis de serem manipuladas e de cederem às pressões do grupo com mais facilidade. Daí porque, dentre as medidas de prevenção ao uso de drogas, inclui-se hoje o trabalho no sentido de melhorar a auto-estima.
 A auto-estima começa a se formar muito cedo. Desde bem pequena a criança em interação com o meio, através das experiências vivenciadas vai incorporando idéias sobre si, que influenciarão suas atitudes posteriores. Nem preciso dizer o quanto nós, pais e professores – mais uma vez, tadinhos de nós, quanta responsabilidade sobre nossos ombros! -, temos peso na formação desse conceito. Embora não seja o único fator determinante, a ação de pais e docentes é essencial.
 O que fazer, portanto, para que nossos filhos e alunos se vejam a partir de uma ótica positiva? O  que pode beneficiar ou prejudicar esse processo?
 Uma das atitudes mais importantes é o respeito pela dignidade da criança. Tem gente que acha que, como a criança é pequena, não tem ainda sensibilidade nem percepção. Daí que falam e agem de acordo com essa idéia, inverídica. Mesmo a criança pequena, sente-se menosprezada se não levam em consideração seus sentimentos, se não atendem suas necessidades e desejos (evidentemente os que podem ser atendidos), se não é ouvida com atenção, se, sem nenhum motivo, ordens são dadas aos gritos e se não há respeito mínimo a sua privacidade. Esse é o primeiro passo: avaliar até que ponto os tratamos com respeito. Muitas pessoas relacionam-se com os vizinhos e amigos com educação e deferência, mas não fazem o mesmo com as crianças. Por outro lado, é bom lembrar que tratar as crianças de forma digna, não impede que as eduquemos, que estabeleçamos limites, regras, que digamos não quando necessário, e que também possamos fazer críticas construtivas todas as vezes que necessário.
 Outro elemento fundamental é descobrir e ressaltar as qualidades e o valor que cada um de nossas crianças têm, evitando, o mais possível, fazer comparações – especialmente as desabonadoras – entre elas. Toda criança tem, desde a infância, características de personalidade que a diferenciam e individualizam. É claro que determinados traços – a capacidade de fazer cálculos matemáticos com rapidez, por exemplo – são valorizados e tidos como qualidades, enquanto que outros – a timidez, por exemplo – são encarados como “defeitos”. Se os adultos que convivem com a criança ou o jovem,  passam a maior parte do tempo, ressaltando aquilo que a sociedade convencionou chamar de “defeito”, eles começa a se ver como seres incompletos e  incapazes, o que, sem dúvida, irá contribuir muito pouco para que tenha uma auto-estima elevada. Se, ao contrário, as qualidades e virtudes são ressaltadas com freqüência, a possibilidade de ter auto-estima positiva cresce bastante.
 Confiar na criança é outro procedimento que contribui positivamente. A criança reflete, de forma contundente, essa imagem que os pais têm dela. Se não crêem nela, ela tende também a não crer em si. Além disso, é preciso demonstrar confiança e fé na capacidade de o filho realizar aquilo a que se propõe.
 Outro fator importante é não criar expectativas exageradas. Se, desde pequeno, você começa a dizer para seu filho, a família e os vizinhos, tudo que “ele vai ser quando crescer” pode estar ativando um nível de metas que a criança nem sempre se sente capaz de alcançar, tornando-a ansiosa “por fazer coisas sensacionais”. O que importa é que tenhamos equilíbrio para nem deixar de incentivar nossos filhos a progredirem, a irem adiante e a vencerem suas próprias limitações, nem tampouco fazer com que se considerem verdadeiros super-homens, levando a que se julguem acima ou melhores do que os colegas, adotando posturas prepotentes ou de menosprezo pelos demais.
 Também é importante fator de auto-estima, separar o ato do autor. Quando seu filho  fizer algo inadequado, evite generalizar; não o critique como pessoa. “Eu já sabia que você era um preguiçoso, mas agora, depois desse boletim, tenho certeza” ou “Nem preciso perguntar quem quebrou o abajur da sala, o desastrado da casa, quem mais?!…” – nada mais eficiente do que ataques pessoais, para fazer com que a criança sinta-se um zero à esquerda.  E para que tenha a confirmação de suas suspeitas: “eu sabia que nada iria adiantar, meus pais  não vêem mesmo meus esforços, para que lutar?”. A confirmação de que sua concepção de que não tem valor é verdadeira, poderá consolidar o conceito de menos-valia, que dificilmente será superado. Se, ao contrário, ao chamarmos a atenção dos nossos filhos para o que fizeram de errado, fixarmos o ato em si (“Meu filho, isso que você fez não combina com você” ou “Tenho certeza que você pode fazer melhor que isso,  conheço sua capacidade”) estaremos possibilitando seu crescimento e a superação do problema, sem abalar a auto-estima. As censuras devem dirigir-se ao fato concreto e não à personalidade ou características da pessoa.
 Tendo esses cuidados, os pais e educadores estarão contribuindo decisivamente para a auto-estima positiva das novas gerações.

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